red sensitive
“Fotografar é colocar na mesma linha de mira a cabeça, o olho e o coração”. – Henri Cartier-Bresson
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
A força das palavras...
(Henri Cartier-Bresson)
Qualquer ideia que te agrade, por isso mesmo... é tua. O autor nada mais fez que vestir a verdade que dentro em ti se achava inteiramente nua...
(Mário Quintana)
Veja se eu sou esta
que fala dentro de você.
Eu não posso escrever
porque não sou poeta:
sou a poesia!
Tente agora fazer um verso.
Se eu fosse você, faria.
(Elisa Lucinda)
O Menino - composição: (Luiz Tatit)
de tanto preparar
parou
de tanto se inspirar
pirou
de tanto ouvir falar sobre
um futuro que virá
virou-se todo pro passado
a esperar
toda vez que ele lembrava
de seus dias de menino
era lindo era lindo
ele achava que com o tempo
tudo vinha vindo, ia indo
vindo, indo, indo, vindo
agora ele cresceu
nada disso aconteceu
virou um programa de índio
agora ele procura
um outro meio
agora em vez de lindo
ele acha feio
agora ele já está
de saco cheio
e só podia estar mesmo
ele não ficou lá
esperando um tempão
não ficou?
de tanto vigorar
gorou
esperando godard
godot
e a gente a esperar
que esse menino progredisse
que tolice!
quem disse isso?
quem que disse?
toda vez que eu viajava
pela estrada de ouro fino
levantava uma poeira
o menino na porteira
sua figura tão ligeira
verdadeira flecha
abre, fecha
abre, fecha, abre, fecha
agora ele cresceu
está bem maior que eu
inda está lá e não se queixa
agora ele não quer
mais essa pecha
agora ele só abre
e nunca fecha
agora ele aproveita
toda brecha
e tem mais que aproveitar mesmo
ele não ficou lá
esperando um tempão?
não ficou?
se o mundo vai e vem
melhor
depois de jorge ben
benjor
depois de botar ritmo
ora ver como é que fica
fica fria áfrica
áfrica, fica fria!
toda vez que se ligava
na cadêcia da folia
a batida se expandia
esquentava noite e dia
e ele só dizia:
fica fria!
quatro, três, dois, um
um ritmo daquele
era mais forte que ele
se tornou pura mania
(quem diria, esse menino...)
até que alguém chegou
e deu um toque
até que ele entendeu
que era o rock
até que ele sentiu
que estava em choque
e só podia estar mesmo
ele não ficou lá
esperando um tempão?
não ficou?
foto: o. guisoni
domingo, 8 de agosto de 2010
“Há muito tempo sim, não te escrevo.
Ficaram velhas todas as notícias.
Eu mesmo envelheci: olha, em relevo,
estes sinais em mim, não das carícias
( tão leves ) que fazias no meu rosto:
são golpes, são espinhos, são lembranças
da vida a teu menino, que a sol-posto
perde a sabedoria das crianças.
A falta que me fazes não é tanto
à hora de dormir, quando dizias
“Deus te abençoe”, e a noite abria em sonho.
É quando, ao despertar, revejo a um canto
a noite acumulada de meus dias,
e sinto que estou vivo, e que não sonho.”
foto: o. guisoni
terça-feira, 27 de julho de 2010
A menina Transparente
Eu apareço disfarçada de todas as coisas...
Posso ser vista no pôr-do-sol ou no nascer dele.
Eu posso estar através da janela,
posso ser vista na asa da gaivota
ou pelo ar que passa por ela.
Muitos me vêem no mar,
outros na comida da panela.
Posso aparecer para qualquer ser,
desde ele pequenininho;
se tratar de mim como eu merecer.
Uns me pegam pra criar em livro,
outros me botam num vestido lindo,
cheio de notas musicais:
fico morando dentro da música.
Tenho muitas mães e digo mais:
sou uma criança com muitos pais.
Tem gente que diz que eu
nasço dentro da pessoa,
e faço ela olhar diferente,
pra tudo que todos olham,
mas não notam.
Às vezes apareço tão transparente e
de mansinho
que mais pareço um Gasparzinho.
Tem gente que nunca percebe que estou ali,
não cuidam de mim,
não me exercita.
Eu fico com um laço de fita
que nunca teve um rabo de cavalo dentro.
Eu fico como uma planta de dentro de casa
que ninguém molha, conversa nem nada.
Quem me adivinha logo dentro dele,
quem percebe que estou ali diariamente,
quem anda comigo e com meu gingado,
fica com o coração inteligente
e com o pensamento emocionado.
A esse que eu dou a mão,
eu vou com esse pra todo lado:
aniversários, passeios, sono, cama, biblioteca,
casa, escola;
estou com esse a toda hora.
Tem gente que me vê muito na beleza da flor,
no mato, na primavera e no calor.
É que eu ando muito mesmo.
Eu posso até voar!
Por isso que me vêem no céu, nas estrelas, nos planetas
e nas conversas das crianças.
Quem anda comigo tem muita esperança.
Todo mundo que me tem
pode me usar e me espalhar por aí.
Quem gosta muito de mim,
depois que me conhece,
junta gente em volta como se eu fosse uma festa.
Me usam até em palestras!
Me acordam lá do papel.
Ih! Eu tinha me esquecido de dizer
que, quando a pessoa começa a me
escrever,
eu fico morando no papel.
Toda vez que a pessoa me lê para dentro
eu passo para dentro dele.
Toda vez que alguém me lê para fora, em voz alta,
como se eu fosse uma música,
eu passo pata dentro de todo mundo que me vê;
eu posso trazer alento a todo mundo que me escuta.
Tem gente que me pega só numa fase,
como se eu fosse uma gripe boa,
e como se dessa boa gripe ficasse gripada.
Quero dizer...
eu dou muito no coração de gente apaixonada.
Minha palavra é do sexo feminino,
brinco com menino e com menina,
fico com a pessoa até ela ficar
velhinha,
inclusive de bengala;
e depois que ela morre,
faço ela ficar viva
toda vez que por mim é lembrada.
Às vezes eu sou sapeca,
às vezes eu sou quieta,
mas todo mundo que olha através de mim
é poeta.
Veja se eu sou esta
que fala dentro de você.
Eu não posso escrever
porque não sou poeta:
sou a poesia!
Tente agora fazer um verso.
Se eu fosse você, faria.
(Elisa Lucinda)
do livro:Palavras de encantamento
foto: o. guisoni
domingo, 25 de julho de 2010
...
Desejo permanecer,
Mas há um vão pelo qual escorro,
Uma ampulheta colocada fora do pedestal
E bem longe do altar
E que me arrasta,
Em fragmentos,
Lenta e suavemente,
Para o
Sempre.
O tempo não me melhora: corroi-me.
Enxergo menos nítido
E ando com menos pressa,
E aonde eu vou
Eu chego e já é passado.
O tempo não me refina: estorva-me e me torna um chato.
Confio menos na palavras
E na bondade eu creio com desconfiança.
Produto inacabado,
No ângulo do esquadro
Eu não me enquadro por inteiro.
Eu, efeito de sua perecibilidade,
Jamais vencerei a batalha dos
Imortais.
(Eliseu Galvão)
foto: o. guisoni
segunda-feira, 19 de julho de 2010
domingo, 18 de julho de 2010
Minhas férias, pula uma linha, parágrafo.
Um
E minhas férias ficaram assim:
Eu sempre adoro as minhas féria na casa do meu avô.
Lá tem um campinho de futebol bem (muito) legal e uma turma de amigos (bem) grande.
(por que não substituir um bem por um muito?)
Isso é perfeito porque um campinho sem uma turma grande não serve para nada. E uma turma grande sem campinho não cabe em lugar nenhum que não seja um campinho. A gente passa o dia todo jogando e só para quando já está escuro e não dá mais pra ver a bola (não se consegue mais). Então já é hora de jantar.
Depois do jantar, os meus melhores amigosda turma vão para a casa do meu avô e a gente pode continuar jogando, só que futebol de botão que não dá indigestão. Aí, a gente pode jogar até tarde porque no dia seguinte não tem aula. É por isso que férias é bom (as férias são boas*).
(Teve um dia que) Um dia eu fiz um golaço*. Não no futebol de botão, no de verdade.
O gol veio de um pase (passe*) de craque do Paulinho que é o meu melhor amigo (entre os meus melhores amigos) da turma. Você sabe que para jogar futebol não adianta só ser bom de bola. Tem que ter tatica (tática*).
O Paulinho driblou um, dois e eu vi que ele ia passar pelo terceiro. Ele também me viu. (Aí, eu)Eu* me enfiei pela esquerda e recebi a bola. Chutei direto. Eu fiz um golaço tão grande que até furou a rede e estilhaçou (,*) em mil pedaços (adjunto adverbial ,*) a janela do vizinho.
Deu a maior confusão porque enquanto a turma pulava o vizinho apareceu bravo com abola (a bola*) em_baixo do braço e mulher dele veio atrás. Eu tive até que parar com a minha comemorassão (ç*). Mas a mulher do vizinho que veio atrás dele falou (para ele) que criança é assim mesmo (e) que a gente estava só se divertindo e que ninguém fez de propósito. (E) era verdade mesmo porque a culpa não foi nossa da rede ter furado. (E) aí acabou ficando tudo bem. O meu vizinho devolveu a bola, verificou a rede e disse que meu gol foi mesmo um golaço mas que era pra gente tomar mais cuidado com as janelas das casas ao lado.
A professora não fez nenhum outro comentário sobre o que eu tinha escrito. Para ela tanto fazia se o meu gol tinha sido um golaço ou um frango do goleiro. Eu fiquei bem chateado. Ela tinha acabado com as minhas férias. Isso significava que era a terceira vez que as minhas férias acabavam numa semana só. Não podia existir nada pior do que isso na vida de um garoto de 11 anos. Mas existia.
Cinco
No final da aula a professora me chamou na mesa dela. Eu tinha que trazer de lição para segunda-feira a análise sintática da frase: "Eu fiz um golaço tão grande que até furou a rede e estilhaçou, em mil pedaços, a janela do vizinho". Era o fim. as minhas férias já tinham virado redação e agora acabavam de virar lição de casa. E uma lição dificílima. Fazer análise sintática! Eu nem me lembrava mais o que era isso. Do jeito que as coisas vão, quando chegarem as minhas próximas férias eu não vou saber se é para ficar feliz ou triste. Eu vou falar " ah, não, férias me lembram redação e lição de casa" e ninguém vai entender nada. Então eu pensei que aninda bem que amanhã é sábado. Eu já comecei a me lembrar que a turma do prédio tinha marcado pólo aquático na piscina. Peguei a minha mochila e saí correndo para não perder o ônibus para casa. Não me lembro se a professora continuou na sala ou não. Eu só me lembro que eu fui o último a sair.
Seis
O fim de semana me fez esquecer da escola e da primeira semana de aula, o que foi bom. O único detalhe foi que eu também acabei esquecendo da lição de português. E na segunda de manhã eu tive que fazer tudo correndo quando cheguei na escola, antes de tocar o sinal. Análise sintática já é uma coisa bem complicada quando você tem que fazer o exercício logo depois que a professora acabou de explicar como se faz. Imagina fazer depois das férias de verão quando você mudou da quinta para a sexta série mas nem se lembra como é que passou de ano. Eu peguei o meu caderno e escrevi a minha frase.
Eu fiz um golaço tão grande que até furou a rede e estilhaçou, em mil pedaços, a janela do vizinho.
Depois eu fui escrevendo o que eu me lembrava que tinha que ter numa análise sintática.
Sujeito:
predicado:
objeto direto:
objeto indireto:
partícula apassivadora:
Isso era tudo o que eu me lembrava. Então eu comecei a escrever do lado de cada coisa dessas uma análise sintática. Pus lá:
sujeito: O meu vizinho. Que é realmente um sujeito de meter medo apesar de eu achar que ele deve ser legal porque está casado há um tempão com a mulher dele que é bem legal.
predicado: O meu vizinho de novo. Isso, se a gente colocar no meio dessa palavra a sílaba JU e então a palavra vira prejudicado porque ele foi mesmo o grande prejudicado dessa história.
objeto direto: A bola. Nem precisa explicar por quê.
objeto indireto: Eu. Porque a janela quebrou em mil pedaços por causa do meu chute mas na verdade foi culpa da rede que furou.
partícula passivadora: Essa era a mulher do meu vizinho que apassivou a briga e se você reparar como ela é pequena eu acho que partícula é o que ela é.
Pronto. Acabei a lição e o sinal nem tinha tocado ainda. Fechei o meu caderno. Depois eu abri de novo. Lembrei mais uma coisa que tinha na análise sintática e escrevi:
adjunto adverbial: em mil pedaços
No final da aula de português eu deixei a minha lição na mesa da professora e fui para a minha aula dupla de educação física.
Sete
Na minha aula dupla de português da sexta-feira, a profesora me entregou a análise sintática. Eu tirei zero e tive que escrever toda essa história contando tudo isso que aconteceu para você. Ela me disse que você é que ia decidir o que fazer comigo, porque você é que é o Diretor dessa escola e ela não sabia que atitude tomar. Foi isso.
Assinado:
Guilherme Pontes Pereira
6ª série B - Manhã
No dia seguinte o Diretor me chamou na sala dele. Ele já tinha lido toda a história que eu escrevi e eu já estava pensando no que ia dizer para os meus pais quando ele me expulsasse da escola. Eu ia dizer:
- Mãe, pai, fui expulso da escola.
Eu entrei na sala do Diretor e me sentei na cadeira bem na frente dele. Quer dizer, na frente mais ou menos, porque era uma daquelas cadeironas que a gente afunda dentro, então o porta-lápis, que ficava na mesa do diretor, tapava a cara até o nariz. Mas ele chegou o porta-lápis para o lado e eu consegui olhar ele bem de frente. Ele disse:
- Guilherme, eu fiquei muito impressionado com a história que você escreveu. Você precisa fazer mais redações.
Então ele me mandou de volta para a sala de aula.
Eu fiquei pensando muito nisso tudo porque no começo eu não estava entendendo nada. Mas depois eu descobri por que escolheram aquele cara para ser Diretor. Ele é bem inteligente. Fazer mais redações era mesmo um castigo muito pior do que ser expulso da escola.
(Cristiane Gabriel)
do livro: histórinhas pescadas
quarta-feira, 14 de julho de 2010
A incapacidade de ser verdadeiro
Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões-da-independência* cuspindo fogo e lendo fotonovelas.
A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos, feito queijo, e ele provou e tinha gosto de queijo. Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias.
Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico. Após o exame, o Dr Epaminondas abanou a cabeça:
- Não há nada a fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um caso de poesia.
(Carlos Drummond de Andrade)
foto: o. guisoni
terça-feira, 13 de julho de 2010
Rock
No mais de 50 anos desde sua aparição, o Rock já foi chamado de tudo: de corruptor de menores a propagador de mensagens do demônio, de hipnotizador de massa a veículo para estranhas mensagens sublinares. Mas, o fascínio que certos nomes exercem nas pessoas hoje em dia, mesmo depois de anos de suas mortes, faz com que os conspirólogos(nome dado aos supostos estudiosos de teorias da conspiração) teçam tramas dignas de constarem e filmes e livros.
De fato, muitas dessas tramas, que os historiadores chamam de mitos e/ou lendas, foram adaptadas pelo cinema e fizeram sucesso. Se são ou não verdades históricas, é algo completamente diferente.
E isso é levado mais adiante do que possa imaginar. Se duvida, basta dar uma olhada em qualquer mecanismo de busca da Internet ou procurar os livros importados que são vendidos em lojas virtuais. Sociedades secretas, que se dedicam a provar que Elvis Presley ou Curt Cobain não morreram, misturam-se com cientistas forenses e investigadores particulares que querem lançar suas próprias versões sobre "verdadeira história" de tais mortos.
Ao mesmo tempo, os fãs conseguem gostar de tais histórias a ponto de leva-las tão a sério quanto uma notícia de jornal. Que o digam Paul MacCartney, Lou Reed e Jim Morrinson. Embora os dois primeiros estejam vivos, muitos afirmam que não passam de dois sósias para enganar o público. E o terceiro, que está morto, é tido como vivo em vários lugares deste planeta.
Alguns boatos surgiram na Internet e teimam em permanecer apesar de já terem sido desmentidos. John Lennon nunca fez um pacto com o demônio. Marilyn Manson não é o ator que fez Paul Pfeiffer em Anos Incríveis, Gene Simmons nunca implantou uma língua de vaca na sua própria boca, David Bowie e Mick Jagger de fato dormiram na mesma cama, mas nunca admitiram ter um caso, testemunhas admitem que Robert Johnson agia de modo estranho pouco antes de sua morte e que temia algo que não dava prara exprimir.
Porém, os fãs continuam a ouvir esses mitos, que soam tão excêntricos quanto uma boa história de fantasmas. Portanto, acomode-se e divirta-se com estas conspirações.
do livro, Segredos e lendas do rock
(Sergio Pereira Couto)
na foto: Robert Plant
fonte da imagem: internet
terça-feira, 6 de julho de 2010
''Algum tempo atrás, talvez uns dias, eu era uma moça caminhando por um mundo de cores, com formas claras e tangíveis. Tudo era misterioso e havia algo oculto; adivinhar-lhe a natureza era um jogo para mim. Se você soubesse como é terrível obter o conhecimento de repente - como um relâmpago iluminado a Terra! Agora, vivo num planeta dolorido, transparente como gelo. É como se houvesse aprendido tudo de uma vez, numa questão de segundos. Minhas amigas e colegas tornaram-se mulheres lentamente. Eu envelheci em instantes e agora tudo está embotado e plano. Sei que não há nada escondido; se houvesse, eu veria.''
(Frida Kahlo)
Nascimento: 6 de julho de 1907
Coyoacán, México
Morte: 13 de julho de 1954 (47 anos)
Coyoacán, México
Nacionalidade: Mexicana
Ocupação: Pintora
Movimento estético :Surrealismo
fonte da imagem: internet